quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Santuário - Nora Roberts

 



SINOPSE


Fotógrafa de sucesso, Jo Ellen Hathaway pensava que tinha escapado de Sanctuary há muito tempo. Fora lá que passara seus anos mais solitários, depois que a família ficara abalada pelo súbito e inexplicável desaparecimento da sua mãe. Mesmo assim, a ilha na costa da Geórgia continua a atormentá-la em seus sonhos. Ainda mais angustiantes são as fotografias que alguém vem enviando para ela, estranhos closes, instantâneos agressivos... e, a mais chocante de todas, uma foto da mãe, há muito perdida, bela, nua... e morta.


RESENHA

Primeiro livro de Nora Roberts que leio. Apesar de sempre ver tantas pessoas falando de seus livros eu não tinha curiosidade de ler.

Eu achava que as tramas de Nora Roberts se resumiam apenas a romances melados e clichês. Não que tenha qualquer coisa contra a esse tipo de livro, mas pensando em ser mais do mesmo nunca dei atenção.

Até que uma amiga querida comentou que suas história tinham bons suspenses e me emprestou Santuário.



Jo volta a ilha de Desire buscando aconchego, após uma crise nervosa que a deixou internada por alguma semanas. Aquelas fotos mexeram muito com ela e mesmo com o conturbado relacionamento com seu pai e irmãos, o lugar onde cresceu lhe pareceu acolhedor.

Na ilha ela encontra um antigo amigo de seu irmão, Nathan, que está passando uma temporada e logo surge entre eles um interesse mais intenso.

A paz de Jo, entretanto, não dura muito, pois ela volta a receber fotos suas e tiradas recentemente. Além disso, alguns desaparecimentos começam a acontecer na pacata ilha.

Gostei da leitura e me surpreendi com o estilo de Roberts. Foi uma boa surpresa, apesar de ter imaginado o suspeito e até suas motivações antes da revelação.

Mais uma escritora que ficará na minha lista de próximas leituras!


Trechos - quotes:

" Você tem de refletir que tudo acontece por um motivo e assim consegue sobreviver." (pag. 98)

"Agradecer a alguém pelo lugar em que sua vida foi parar é a mesma coisa que culpá-la por isso. Somos todos responsáveis por nós mesmos." (pag. 104)

"Era exatamente essa a sensação que Brian causava nela. Aquele desequilíbrio ligeiro e excitante, a impressão de que o chão se alterava, por mais firmes que os pés estivessem." (pag. 297)

"A vida sempre se recusava a ser simples, pensou ele. Um homem seguia em frente, cuidando apenas do que lhe interessava, querendo que os outros fizessem a mesma coisa em troca, mas a vida insistia em jogar tachinhas na frente de seus pés descalços." (pag. 368)

"O bem e o mal existindo lado a lado na mesma personalidade. Não há nenhuma pessoa que não tenha sombras." (pag. 478)

"Acreditar numa mentira não faz com que esteja errado. É a mentira que está errada. " (pag. 486)




quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Coração de mãe, Jodi Picoult

 





Coração de mãe, Jodi Picoult




SINOPSE

Paige tem apenas algumas lembranças de sua mãe, que a abandonou quando ela era uma garotinha. Agora, aos dezoito anos, ela deixa o pai para trás em Chicago em busca do sonho de cursar a faculdade de artes. Mas Paige vê seus planos mudarem quando conhece Nicholas, um ambicioso estudante de medicina com quem logo se casa.

Depois de alguns anos tentando se encaixar nos ambientes abastados que Nicholas frequenta — e se sentindo mais deslocada do que nunca —, Paige engravida inesperadamente. Sobrecarregada pelas exigências de ter uma família, ela não consegue esquecer a ausência da mãe e as memórias dolorosas do passado, que a fazem duvidar de si mesma.

Lutando para se encontrar e finalmente acreditar nas próprias capacidades, Paige toma uma atitude chocante, que trará consequências avassaladoras para todos os envolvidos. Em Coração de mãe, Jodi Picoult constrói com perícia um romance cativante, que examina emoções e problemas com os quais todos nós podemos nos identificar.

RESENHA

Desde que li "19 minutos" fiquei com muita vontade de ler outros livros dessa escritora e aleatoriamente escolhi Coração de Mãe.

Paige foi abandonada pela mãe quando tinha 5 anos e apesar do amor que recebeu do pai, essa ausência deixou marcas profundas nela. Após um aborto ela foge de casa, pois não conseguia encarar a decepção que isso causaria em seu pai.

Paige possui um talento único para desenhar, revelando muito mais que seus olhos podem ver. Seus desenhos são profundos e fascinantes.

Na nova cidade, ela se apaixona por Nicholas, um estudante de medicina encantador que está acostumado com todos fazendo suas vontades. Ele corresponde e os dois se casam mesmo com a desaprovação dos pais dele.

Sem o apoio dos sogros, ela ajudou no que foi possível para que ele concluísse os estudos e se tornasse um médico de sucesso, deixando seus próprios sonhos de lado.

O peso da ausência da mãe, porém, sempre a acompanhava, causando dúvidas e inseguranças, até que um dia, logo após o nascimento do filho, despencou sobre ela.

Nicholas não percebia o abismo em que a esposa se encontrava , pois seu foco era totalmente voltado para o trabalho.

Ela não se sentia capaz de ser uma boa mãe e acabou no mesmo padrão da sua: abandonou o marido e filho, sem saber ao certo o porquê.

Nessa fuga de si mesma, ela decide procurar pela mãe e tentar encontrar respostas que poderiam acalmar seu coração e possibilitar uma conexão com Nicholas e Max. Mas será que o marido a aceitaria de volta?

A minha leitura desse livro não fluiu muito bem. Demorei para entrar na história e no meio de livro cheguei a fazer uma leitura dinâmica, pois perdia a paciência com o desenrolar da trama. Não que eu não tenha gostado, Paige e Nicholas formam um casal interessante, mas achei tudo muito enrolado e isso atrapalhou.




QUOTES DO LIVRO:

"Imaginou, por um rápido instante, como sua vida poderia ter sido se tivesse nascido outra pessoa."


"Talvez sempre tivesse sabido que a verdade de uma pessoa está no coração."


"Quem ligava para a pompa de um único dia idiota quando se tinha o resto da vida para fazer tudo perfeito?"


"— Ah, menina, o que na vida acontece do jeito que era para ser? A gente não planeja a vida, a gente apenas vive." 


"Quer se goste disso ou não, pensou, tudo é um jogo. E, caso se tenha alguma intenção de ganhar, é preciso pelo menos jogar."


"Não era para ser assim; eu não sabia nada sobre como me encaixar em um cenário normal e sólido como aquele." 


"(...) ri tanto que ultrapassei a linha tênue e comecei a chorar."


"Que a estrada se eleve para te encontrar. Que o vento esteja sempre a teu favor. Que o sol brilhe morno em teu rosto. Que a chuva caia suave em teus campos. E, até nos encontrarmos novamente, Que Deus te segure na palma de Sua mão."


"Vou começar pelos pedaços da verdade. Eu começava a ver que o passado podia colorir o futuro, mas não o determinava. E, se eu conseguisse acreditar nisso, seria muito mais fácil me libertar de meus erros."


"(...) as pessoas nunca abandonam totalmente aquilo que deixam para trás."


"Quando não se fica olhando para trás, é bem mais fácil não tropeçar e cair."


"Afinal, não era um tipo pior de culpa estar com seu filho e saber que queria estar em qualquer outro lugar, menos ali?"


"Casamento não parecia ter a ver exatamente com amor; tinha a ver com a capacidade de viver juntos por um longo período de tempo, e isso era algo completamente diferente."


"Pensei em como seria fácil seguir por um trajeto desconhecido se eu tivesse alguém me orientando na direção certa;"


"— O que te faz pensar que é tão simples? — perguntei. — Sim, a gente vai embora, mas deixa pessoas para trás. Consertamos nossa vida, mas à custa dos outros."


"Meu Deus, como é diferente viver uma vida que esperam que você viva e viver a vida que você quer viver. Eu apenas percebi isso um pouco tarde, só isso."


"O que fizemos foi porque tivemos de fazer. O que fizemos foi porque tínhamos o direito de fazer. Ainda assim, cada uma de nós deixou sinalizadores de algum tipo: uma trilha pública que trouxe outros até nós ou que se tornou, um dia, a estrada pela qual retornamos."


"Mas há pouco que tenho a dizer e tanto que quero dizer."

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

A garota do penhasco, Lucinda Riley



SINOPSE:

Tentando superar uma desilusão amorosa, Grania Ryan deixa Nova York e volta para a casa dos pais, na costa da Irlanda. Lá, na beira de um penhasco, em meio a uma tempestade, ela conhece Aurora Lisle, uma garotinha de 8 anos que mudará sua vida para sempre.

Apesar dos avisos da mãe para ter cuidado com os Lisles, Grania e Aurora ficam cada vez mais próximas, e ela passa a cuidar da menina sempre que Alexander, seu belo e misterioso pai, precisa viajar a trabalho. O que Grania ainda não sabe é que há mais de cem anos o destino das famílias Ryan e Lisle se entrelaça inexoravelmente, nunca com um final feliz.

Por meio de cartas antigas, Grania descobre a história de Mary, sua bisavó, e começa a perceber quão profundamente conectadas as duas famílias estão. Os horrores da guerra, a sina de uma criança, a atração irresistível pelo balé e amores trágicos vão deixando sua marca através das gerações. E agora Grania precisa escolher entre seguir em frente ou repetir o passado.

Alternando entre romance histórico e contemporâneo, A garota do penhasco é um livro sobre mulheres fortes, grandes sacrifícios e a capacidade do amor de triunfar sobre tudo.


RESENHA:

O livro conta a história das famílias Ryan e Lisle, e de como essas duas famílias, ao longo de gerações, tiveram suas vidas entrelaçadas e marcadas por mágoas, decepções, amor, tristeza e amizade.

A personagem principal é Grania, da família Ryan, que uma noite encontra Aurora, uma menina da família Lisle, à beira de um penhasco, numa espécie de transe.

Grania acabou de voltar para sua cidade natal na Irlanda após passar por um momento difícil com o companheiro Matt em Nova York e se encanta por Aurora. O sentimento é recíproco.

Esse relacionamento acaba trazendo à tona vários segredos das duas famílias, que no decorrer de um século marcaram a vida de várias pessoas.

A trama é narrada por Aurora, que conta a história desde sua bisavó Mary, de como ela acabou adotando sua avó Anna, que se tornou um bailarina famosa, e depois dá a luz à filha Sophia, avó de Grania.

Para não nos perdermos na história, Aurora nos apresenta a árvore genealógica das famílias e assim fica mais fácil acompanhar os entrelaçamentos e mistérios que rodeiam as duas família.

Grania tem sua vida totalmente mudada quando inicia a amizade com Aurora, mas o amor pela menina é tão grande que ela nem hesita em fazer o que seu coração manda, apesar dos avisos constantes de sua mãe que se ligar com a família Lisle não é uma boa ideia.

Me envolvi bastante na história. Um livro de leitura leve, nem por isso menos interessante.

Grania é uma personagem com muitas dificuldades de se relacionar e com tudo que vive após seu encontro com a pequena Aurora, percebe que seu orgulho exagerado pode a ter afastado definitivamente do homem que ama.

Trechos - QUOTES:

"Sei que todo mundo pensa isso da própria história. E é verdade. Todo ser humano tem uma experiência fascinante, comum grande elenco de personagens bons e maus." (pag. 7)


"E nesta vida temos que aproveitar qualquer chance de nos sentirmos melhor." (pag. 137)


"Estou começando a entender como a dor nos dá força e sabedoria - eu com certeza mudei - e é parte da vida tanto quanto a felicidade. Tudo tem seu equilíbrio natural, e como alguém entenderia a felicidade se não ficasse triste às vezes? Como entenderia a saúde se nunca tivesse adoecido? " (pág. 187)


"Bom, acho que nunca pensei se gosto ou não de gente. As pessoas meio que existem, não é? É preciso conviver com elas, não?" (pág. 265)


"Talvez ter muito de qualquer coisa seja tão ruim quanto não ter o suficiente." (pag. 284)



“Passei grande parte da minha infância com adultos e sempre  me espantei ao ver como eles nunca diziam realmente  o que queriam dizer. Como não conseguiam se comunicar, mesmo quando eu via que estavam sofrendo e que amavam a outra pessoa. Como o orgulho, a raiva  e a insegurança acabam tão facilmente com a chance de felicidade.” (pág. 377)


sexta-feira, 17 de julho de 2020

As flores para Algernon, Daniel Keyes

Keyes, Daniel. Flores Para Algernon. Editora Aleph. Edição do Kindle.

SINOPSE


Uma cirurgia revolucionária promete aumentar o QI do paciente. Charlie Gordon, um homem com deficiência intelectual severa, é selecionado para ser o primeiro humano a passar pelo procedimento. O experimento é um avanço científico sem precedentes, e a inteligência de Charlie aumenta tanto que ultrapassa a dos médicos que o planejaram. Entretanto, Charlie passa a ter novas percepções da realidade e começa a refletir sobre suas relações sociais e até o papel de sua existência.

RESENHA


“ (...) há de lembrar que de dois modos e por duas causas perturba-se a visão: na passagem do claro para a escuridão e vice-versa: das trevas para a luz. Refletindo que a mesma coisa se dá com a alma...” Platão
Charlie Gordon tem deficiência intelectual severa e sempre desejou ser mais inteligente para ser amado e ter amigos. Esse perfil o torna o torna perfeito para um experimento que promete revolucionar a medicina: uma cirurgia para aumentar o QI do paciente.

Para realizar a cirurgia ele se submete a alguns testes. Em um deles ele se confronta com Algernon, rato que passou pela mesmo procedimento e ficou muito esperto. Mais tarde ele fica emocionalmente ligado ao ratinho e o vê como espelho de si mesmo.

A cirurgia foi um sucesso e Charlie logo começa a desfrutar os prazeres e desprazeres de ser um gênio. Em pouco tempo sabia muito mais que os médicos e professores. Aprendeu diversas línguas, se interessou pelos assuntos mais diversos e difíceis, até que se dedicou a descobrir mais sobre o procedimento que se submeteu para tentar descobrir qual seria seu futuro: continuaria assim para sempre ou poderia voltar a ser com era? 

O crescimento emocional, entretanto, não ocorreu na mesma rapidez.

O livro é narrado pelo próprio Charlie através dos relatórios de progresso que ele escrevia e enviava para os responsáveis pela cirurgia. E é muito interessante acompanhar aos poucos, na própria escrita de Charlie, o seu progresso. Seus primeiros relatórios eram simplórios, repletos de erros de ortografia, mas conforme o tempo passa a linguagem se torna mais complexa. Se no inicio quase nada de emoções e sentimentos eram relatados, depois houve uma avalanche de intensas reflexões.

O conhecimento tanto pode ser uma dádiva como um mal. Quando Charlie não tinha condições de entender seus relacionamentos sua vida era mais tranquila, considerava que tinha amigos e era de certa forma feliz no seu mundo, mas ao tomar ciência de como era tratado e das lembranças de sua infância e da dificuldade em se relacionar com os pais, ele é invadido por angústia, raiva e desespero. Tudo ficou absurdamente complicado, se sentiu mais solitário do que nunca e o fantasma do antigo Charlie sempre o perseguia. 


TRECHOS - QUOTES - DO LIVRO

"Quanto mais inteligente você se tornar, mais problemas você terá, Charlie. Seu crescimento intelectual vai ultrapassar seu crescimento emocional."


"Então é assim que uma pessoa chega a se desprezar: sabendo que está fazendo a coisa errada sem conseguir parar."


"Eu não sei. Sou como um animal que foi trancado do lado de fora de sua jaula boa e segura."


"Ele me lembra de que a linguagem é muitas vezes usada como uma barreira em vez de uma ferramenta." 

quinta-feira, 16 de julho de 2020

A menina que rouvaba livros, Markus Zusak



SINOPSE
 Ao perceber que a pequena Liesel Meminger, uma ladra de livros, lhe escapa, a Morte afeiçoa-se à menina e rastreia suas pegadas de 1939 a 1943. A mãe comunista, perseguida pelo nazismo, envia Liesel e o irmão para o subúrbio pobre de uma cidade alemã, onde um casal se dispõe a adotá-los por dinheiro. O garoto morre no trajeto e é enterrado por um coveiro que deixa cair um livro na neve. É o primeiro de uma série que a menina vai surrupiar ao longo dos anos. O único vínculo com a família é esta obra, que ela ainda não sabe ler. Assombrada por pesadelos, ela compensa o medo e a solidão das noites com a conivência do pai adotivo, um pintor de parede bonachão que lhe dá lições de leitura. Alfabetizada sob vistas grossas da madrasta, Liesel canaliza urgências para a literatura. Em tempos de livros incendiados, ela os furta, ou os lê na biblioteca do prefeito da cidade. A vida ao redor é a pseudo-realidade criada em torno do culto a Hitler na Segunda Guerra. Ela assiste à eufórica celebração do aniversário do Führer pela vizinhança. Teme a dona da loja da esquina, colaboradora do Terceiro Reich. Faz amizade com um garoto obrigado a integrar a Juventude Hitlerista. E ajuda o pai a esconder no porão um judeu que escreve livros artesanais para contar a sua parte naquela História.

RESENHA

Histórias da 2ª guerra mundial sempre comovem, foi um período de muitos sofrimentos, injustiças e atrocidades.

Nesse livro maravilhoso e repleto de sensibilidade quem conta a história é a morte.

O livro inicia com a morte se apresentando: "Decididamente, eu sei ser animada, sei ser amável. Agradável. Afável. E esses são apenas os As. Só não me peça para ser simpática."

Para se distrair do árduo trabalho de carregar almas, a morte se atentava para as cores ao seu redor, pois era insuportável olhar para os humanos que ficavam, com suas dores e desesperos.

Ao pegar a alma do pequeno Werner em um trem que seguia para Munique, ela sentiu que Liesel, irmã do menino, olhava para ela.

A morte a encontraria mais duas vezes antes do fim da guerra. E na última vez encontrou o livro que narrava sua vida e se dispôs a contar a história da roubadora de livros.

O 1º livro que Liesel roubou foi no enterro do irmão, foi irresistível para ela, apesar de não saber ler.

O livro se tornou algo precioso e ela o levou até à casa de seus pais de criação, Hans e Rosa, que seria seu novo lar.

A adaptação foi difícil, a saudade da mãe e a imagem do irmão morto a faziam ter pesadelos.

Esses pesadelos levaram Hans até o quarto da menina, que primeiro leu para ela o livro roubado: O Manual do coveiro; e depois a ensinou a ler. Assim se iniciou um grande laço de amor, entre pai e filha.

Seu melhor amigo era o abusado Rudy, que um dia se pintou de preto imaginando ser o grande corredor americano Jesse Owens e que sempre pedia um beijo para a ela. Um beijo que não recebeu em vida...

Alguns livros a menina ganhou, outros ela roubou e as palavras passaram a ter especial significado. Principalmente, quando o judeu Max se escondeu na sua casa e a ajudou a amar ainda mais as palavras.

"UMA ÚLTIMA NOTA DE SUA NARRADORA . “𝑂𝑠 𝑠𝑒𝑟𝑒𝑠 ℎ𝑢𝑚𝑎𝑛𝑜𝑠 𝑚𝑒 𝑎𝑠𝑠𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑚. “


Alguns trechos - quotes - do livro:


"Como a maioria dos sofrimentos, esse começou com uma aparente felicidade."


"Quando viesse a escrever sua história, ela se perguntaria exatamente quando os livros e as palavras haviam começado a significar não apenas alguma coisa, mas tudo."


"As pessoas só observam as cores do dia no começo e no fim, mas para mim está muito claro que o dia se funde através de uma multidão de matizes e gradações, a cada momento que passa. Uma só hora pode consistir em milhares de cores diferentes. Amarelos céreos, azuis borrifados de nuvens. Escuridões enevoadas. No meu ramo de atividade, faço questão de notá-los."

"Não ir embora: ato de confiança e amor, comumente decifrado pelas crianças."


"É difícil não gostar de um homem que não apenas nota as cores, mas fala delas."


"(...) mais uma prova de como o ser humano é contraditório. Um punhado de bem, um punhado de mal. É só misturar com água."


"Ela era a roubadora de livros que não tinha palavras. Mas, acredite, as palavras estavam a caminho, e quando chegassem Liesel as seguraria nas mãos feito nuvens, e as torceria feito chuva."


"(..) uma oportunidade conduz diretamente a outra, assim como o risco leva a mais risco, a vida, a mais vida, e a morte, a mais morte."


"Como a maioria dos sofrimentos, esse começou com uma aparente felicidade."


"É muito mais fácil, percebeu, estar à beira de alguma coisa do que ser de fato aquilo."


"Seus olhos não fizeram nada do que o susto normalmente descreve. Nada de fechar bruscamente, nada de pálpebras batendo, nenhum sobressalto. Essas coisas acontecem quando se acorda de um sonho ruim, não quando se acorda dentro dele."


"Se ao menos pudesse voltar a ser tão distraída, a sentir tanto amor sem saber (...)"


"Odiei as palavras e as amei, e espero tê-las usado direito."

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Tudo o que nunca contei, Celeste Ng


NG, Celeste. Tudo o que nunca contei. Intrínseca. Edição do Kindle. 



Na manhã de um dia de primavera de 1977, Lydia Lee não aparece para tomar café. Mais tarde, seu corpo é encontrado em um lago de uma cidade em que ela e sua família sino-americana nunca se adaptaram muito bem.
Quem ou o que fez com que Lydia — uma estudante promissora de 16 anos, adorada pelos pais e que com frequência podia ser ouvida conversando alegremente ao telefone — fugisse de casa e se aventurasse em um bote tarde da noite, mesmo tendo pavor de água e sem saber nadar? À medida que a polícia tenta desvendar o caso do desaparecimento, os familiares de Lydia descobrem que mal a conheciam. E a resposta surpreendente também está muito abaixo da superfície.
Conforme analisa e expõe os segredos da família Lee — os sonhos que deram lugar às decepções, as inseguranças omitidas, as traições e os arrependimentos —, Celeste Ng desenvolve um romance sobre as diversas formas com que pais, filhos e irmãos podem falhar em compreender uns aos outros e talvez até a si mesmos. Uma uma observação precisa e dolorosa do fardo que as expectativas da família representam e da necessidade de pertencimento. Um romance que explora isolamento, sucesso, questões de raça, gênero, família e identidade e permanece com o leitor bem depois de virada a última página.


RESENHA:


A trama começa com a morte de Lidia, 16 anos, que é encontrada no lago próximo à sua casa.
A suspeita é suicídio, mas a família não pode aceitar isso. Lídia era muito amada, popular e se preparou desde criança para ser médica, realizando assim o sonho da mãe...Mas e se ninguém soubesse o que realmente se passava com ela?

A história de todos é contada. O pai James, de origem chinesa, que mesmo nascido nos EUA nunca conseguiu se integrar. Sempre se sentiu à margem, diminuído e sozinho.
A mãe Marilyn, que sonhou alto, que se dedicou para se tornar médica, mas ao conhecer o amor mudou o rumo de sua vida e se desesperou quando percebeu que estava se tornando igual à sua mãe, dona de casa sem grandes perspectivas.
O filho mais velho, Nathan, aquele que ninguém se importa, que se vira sozinho e em silêncio. Sonhando com o espaço e se dedicando muito para realizar seu sonho.
A filha mais nova, Hannah, invisível, nasceu numa família já marcada pelas dores e nunca conseguiu ser incluída, percebida e amada.
Lidia, a filha do meio, a especial, a diferente, única que herdara traços da mãe ocidental. Aquela que a mãe depositou todos os seus sonhos. Que aceitou esse excesso de amor e perspectivas como se fosse a única forma de manter a família unida.

O livro me surpreendeu muito pela intensidade e sensibilidade. Trata de relações familiares, de preconceito, expectativas, frustrações e silêncios.

Pais desejando que seus filhos vivam a vida que não puderam ter. Filhos que com medo do abandono aceitam esses sonhos sem coragem de contrariar. Filhos que não são percebidos e não se sentem amados.

Será que os pais conhecem realmente seus filhos ou apenas enxergam o que querem ver?

Um livro que faz refletir sobre os relacionamento familiares e como o diálogo, atenção e o cuidado são fundamentais para o equilíbrio dessas relações.


Trechos - quotes - do livro:

"O pretérito mais-que-perfeito, o tempo verbal das oportunidades perdidas."




"Mas não sabia explicar o que havia ocorrido, como tudo mudara em apenas um dia, como alguém que ela tanto amava podia estar ali num minuto e no seguinte não estar."


"As pessoas amam tão intensamente e têm tantas expectativas para depois acabarem sem nada. Filhos que já não precisavam de você. Um marido que já não queria você. Não resta nada além de você, sozinha, e um espaço vazio."


"Aquilo desapareceria da lembrança que guardaria de Lydia, do jeito que as lembranças que guardamos das pessoas amadas sempre se suavizam e se simplificam, perdendo complexidade como se fossem escamas."


"(...) ela sentia medo havia tanto tempo que se esquecera de como era não sentir"


"Antes disso, ela não tinha se dado conta de como a felicidade era frágil, como a qualquer momento, se não fosse cuidadosa, ela poderia cair e quebrar."


"Naquele dia muito tempo antes, sentada naquele mesmo ponto do píer, ela já tinha começado a sentir: como seria difícil herdar os sonhos dos pais. Como era sufocante ser tão amada."


"As pessoas formam uma opinião antes de conhecerem você. — Olhou para ele, subitamente ousada. — Mais ou menos como você fez comigo. Elas acham que sabem tudo a seu respeito. Só que você nunca é quem elas pensam."





quinta-feira, 9 de julho de 2020

Sushi - Marian Keyes




SINOPSE:
Lisa Edwards acha que sua vida acabou quando descobre que terá que se mudar para a Irlanda, com a missão de lançar a revista Garota. Ashling Kennedy, a editora assistente da Garota, é a Rainha da Ansiedade, sempre achou que falta algo mais em sua vida e morre de inveja de sua amiga, Clodagh. Conhecida como “Princesa”, Clodagh sempre teve a vida dos sonhos, e hoje vive seu conto de fadas ao lado do marido e dos filhos. Mas então, por que será anda sentindo vontade de beijar um sapo? Sushi é um livro sobre a busca da felicidade. E ensina que, quando você deixa as coisas ferverem sob a superfície por tempo demais, elas acabam transbordando.

RESENHA:


Sushi foi minha primeira leitura dessa que é uma das minhas escritoras preferidas.
O livro conta a história de três mulheres que não tem nada em comum a não ser o fato de morarem em Dublin e passarem por situações limítrofes que as levam ao tortuoso caminho da depressão.

Lisa é uma workaholic que ama todo o glamour de trabalhar em uma grande revista em Londres. O sonho é assumir a filial de NY, mas teve uma grande decepção ao ser transferida para Dublin com a incumbência de fazer uma nova revista. Ela não consegue se adaptar com a vida provinciana da cidade, além do sofrimento por estar se separando do marido.

Ashiling é quase o oposto de Lisa, discreta e super protetora. Foi contratada para trabalhar como redatora na nova revista e desde o inicio a natureza impiedosa da chefe a intimida. Ashiling fica conhecida no trabalho como "senhora quebra-galho", pois sempre está preparada para qualquer tipo de imprevisto. Também terminou um relacionamento e está perdida com relação aos seus sentimentos.

Clodagh é uma dona de casa que tem dois filhos que não a deixam em paz. Tem a vida que é o sonho de muitas mulheres, um marido lindo e bem sucedido, e é muito bonita, mas sente um grande vazio, insatisfeita com a rotina sufocante. Não tem tempo para si, vive em função dos filhos e está prestes a ter um colapso. Ela é a melhor amiga de Ashiling.

Apesar de ter toda a pinta de ser um livro engraçado, não se trata de uma trama rasa. Essa é uma característica comum de seus livros, assuntos polêmicos tratados no cotidiano de seus personagens. Humor e drama na medida certa.

Nesse livro as personagens enfrentam separação, mudança de cidade e de planos, perda da identidade, confronto com o passado, traição e depressão. Mas há espaço para histórias de amor também.


Trechos (quotes) do Livro:

"Mesmo nos seus momentos de maior realização, algo permanecia eternamente ausente, lá no mais íntimo de seu ser. Como aquele pontinho semelhante a um orifício que fica no negro da tela quando a televisão é desligada a noite." (pag. 53)

"Assaltada por aquele estranho paradoxo emocional de se conhecer uma pessoa tão bem que, de repente, não se a conhece em absoluto." (pag. 65)

"(...) não pode evitar a sensação de que a vida parecia ter tido  mais graça no passado, uma espécie de brilho dourado. Sempre avançara com otimismo em direção ao futuro, despreocupada e confiante de que lhe traria coisas boas." (pag. 123)

"Todo mundo espera que as mães sublimem seus próprios desejos e necessidades em favor dos filhos. E talvez isso não seja lá muito justo." (pag, 159)

"Uma ideia passou por sua cabeça: Que coisas terríveis as pessoas fazem com aqueles a quem amam." (pag. 453)

"Mas sempre acalentara uma curiosidade perversa sobre a hipótese de perder a sanidade, desconfiando que proporcionasse alguma espécie de conforto. Não seria um alívio poder ficar totalmente incapacitada, sem nenhuma escolha, a não ser permitir que os outros assumissem o comando?" (pag. 477)



Santuário - Nora Roberts